terça-feira, 24 de março de 2015

Museus | Utilização de marketing em museus

Apesar da mudança de mentalidade em Portugal em relação à velha questão: "a cultura dá dinheiro?" ainda se discute bastante este tema e creio que ainda há uma série de preconceitos sobretudo em relação aos museus.
Ainda existe uma opinião pública pouco informada que não entende a utilização de estratégias de marketing em museus e ainda muita gente pensa que os museus são um buraco financeiro! Não podia ser uma ideia mais errada... mas atenção não é pelos museus serem fonte de receitas que vão deixar de ser instituições sem fins lucrativos como consta na definição de museu do ICOM:

“os museus são instituições permanentes, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, abertas ao público, que adquirem, preservam, pesquisam, comunicam e expõem, para fins de estudo, educação e lazer, os testemunhos materiais e imateriais dos povos e seus ambientes”.

Penso que ainda há muita gente que está equivocada com os conceitos vamos então analisar a definição de instituições sem fins lucrativos:

"As organizações sem fins lucrativos são organizações de natureza jurídica sem fins de acumulação de capital para o lucro dos seus diretores. Todo seu lucro deve ser reinvestido em estrutura ou outras áreas da pessoa jurídica."

Ou seja as instituições sem fins lucrativos podem e devem gerar lucro (!) admirados? Agora esse lucro deve ser reinvestido afim de melhorar os serviços do museu para que este possa cumprir da melhor forma a missão a que se propõe. Não vamos agora pensar no museu como uma empresa ou um estabelecimento comercial onde o lucro gerado serve apenas para encher os bolsos de alguns. Certo? Existem casos destes e apesar de utilizarem a palavra museu como nome do "estabelecimento" lamento informar mas não são museus.

Vamos voltar ao tema principal, a utilização de estratégias de marketing em museus. 
Actualmente, um crescente número de museus está a optar por reinventar-se, adaptando-se às expectativas e condições de mudança da sociedade contemporânea, respondendo com novas formas de organização, design de exposições, programação e serviços. É fundamental criar programas e serviços que convertam a visita ao museu numa experiência agradável e gratificante para quem o visita e a programação estratégica de marketing permite que os museus modelem, planifiquem e implementem os seus objetivos, ofertas e os públicos a que pretendem chegar.
Pretende-se, então que, através das aplicações práticas do marketing, os museus cheguem a um público diversificado e que, desta forma, resolvam os problemas de sustentabilidade.
Nos últimos anos os museus para proteger a sua missão e a sua independência têm-se deparado com pressões crescentes para que adotem uma maior orientação para os visitantes, tenham mais em conta os interesses e necessidades dos públicos e respondam à procura do mercado em geral. A promoção dos museus através de estratégias de marketing é uma realidade relativamente recente, pois, anteriormente os museus ofereciam programas limitados direcionados para um público especializado e as suas despesas eram suportadas, sobretudo, por mecenas.
Em Portugal, o ponto de viragem para a aceitação e mudança de mentalidade em relação à aplicação do marketing foi em 1994, com a Lisboa Capital Europeia da Cultura. Foi a primeira vez que se falou diretamente de marketing cultural no nosso país. Anteriormente, considerava-se que a aplicação do marketing iria perverter os objetivos pedagógicos da cultura pois de uma forma conceptual, um tanto ou quanto redutora, o marketing tem como finalidade vender um produto, impor ao consumidor necessidades de consumo.
Mas em marketing cultural não é isso que se pretende, não deve ser impositivo mas aproximar e seduzir as pessoas para a cultura, deve ter neste contexto um importante papel informativo e pedagógico. Os públicos não devem sentir que ir ao museu ou participar em actividades culturais devem ser uma imposição social deve haver, sim, uma democratização do acesso à cultura. Neste sentido, necessitam adotar estratégias de comunicação e oferecer um maior e mais diversificado número de programas, que atraiam os variados públicos, a fim de se tornarem uma referência cultural de qualidade. Para isso, a sustentabilidade da instituição é fulcral sendo necessário um razoável suporte financeiro que lhes permita alargar os públicos.
O marketing em museus deve estar presente na comunicação entre o público e a instituição, pois é através das ferramentas que dispõe que identifica os públicos-alvo, entendendo-se estes, não só como os visitantes que já frequentaram o museu mas também os potenciais visitantes; melhora os seus produtos e serviços oferecidos e é capaz de criar medidas destinadas a assegurar uma melhor assistência e a aumentar o número de entradas. Mas as estratégias de marketing não visam apenas aumentar o número de visitantes, mas também as quantias por estes, dispendidas nos serviços que o museu lhes coloca ao dispor e até captar apoios de pessoas e entidades (fundraising).
Contudo, a escolha dos meios de comunicação, programas e acções a desenvolver para atingir a visibilidade e a distinção de um museu deve ser ponderada, dependendo dos objectivos específicos do museu, do tipo de público que pretende atingir e dos custos a suportar.
Inicialmente, foram várias as reações negativas da utilização do marketing na gestão dos museus, acusando-os de se estarem a tornar espaços comerciais e a utilizar a cultura como um simples negócio lucrativo. Hoje em dia, parece mais consensual que é necessário, os museus adaptarem-se às exigências da sociedade contemporânea para sobreviverem, pois caso não tentem conquistar público terão grande concorrência por parte de outras atividades culturais e de lazer.
Os objetivos atribuídos aos museus no que toca à educação dos seus públicos, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, parecem opor-se à obtenção de lucros resultantes da aplicação das estratégias. Como se poderá então compatibilizar estas duas vertentes, ou seja, assegurar a vocação educativa do museu e simultaneamente possibilitar a angariação de verbas extraordinárias, que, exactamente,
lhe permitam melhorar essa vocação?
Esta é uma questão nem sempre pacífica de responder e deverá ser cada museu, cada um com as suas especificidades, a responder a este desafio, tendo sempre em conta que a cultura não é um bem que se deva tornar vendível, e que deve estar acessível à sociedade em geral, pois o objetivo não é apenas oferecer ao público o que ele deseja, mas também, cativá-lo e sensibilizá-lo para a cultura e educação.
O Museu do Louvre é um exemplo da crescente comercialização dos museus nas últimas décadas. Está hoje de tal forma identificado como uma brand (marca), que emprestará o seu nome a um museu a inaugurar em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, por uma quantia assinalável. Temos outros exemplos de museus que já possuem uma forte imagem de marca como é o caso do Tate Modern, em Londres, do MoMA, em Nova Iorque ou do Guggenheim, em Bilbau.
Publicidade de uma exposição do MoMA no metro de Nova Iorque
Estes museus conquistaram uma grande importância na construção da imagem turística destas cidades contribuindo para o seu desenvolvimento económico, potenciando o comércio e a empregabilidade na sua área envolvente.
Reconhece-se, agora, a importância de criação de imagem de marca, da comunicação e promoção. E é neste sentido, que os museus recorrem a campanhas de publicidade, relações públicas e promoção com o objectivo de reforçar a sua visibilidade, comunicar o seu carácter singular e pedir o apoio do público.
Se por um lado, o marketing pode, de facto, constituir um valioso contributo para a imagem positiva do museu, por outro, como entidades sem fins lucrativos, os museus, não poderão sobrepor as estratégias de marketing com o objectivo claro de aumentar os seus recursos financeiros ao papel educativo que aos mesmos compete.

Utilização de marketing em museus. Sim. Gerar lucros. Sim. Desde que o museu não desvirtue a sua missão, visão e vocação.

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