terça-feira, 24 de março de 2020

História | A Gripe Asiática de 1957 e o humor

Em agosto de 1957, chegou a Portugal um surto de gripe asiática, através do desembarque de passageiros doentes do navio Moçambique, no porto de Lisboa, proveniente de África. O período mais crítico da onda epidémica ocorreu no mês de outubro, tendo uma alta incidência em Lisboa onde provocou a morte a 288 pessoas.
No Diário de Lisboa, sobretudo nos meses de setembro e outubro são publicadas notícias dando conta da progressão da pandemia em vários países e em Portugal, mas sempre destacando a benignidade do surto da gripe no nosso país.
Assim como na atualidade e a apesar da censura do Estado Novo, o humor também foi utilizado para caraterizar a situação epidémica e até para sensibilizar a população para algumas medidas de prevenção. No Diário de Lisboa entre 11 de setembro de 21 de outubro de 1957 são publicados alguns cartoons de José Vilhena (1927-2015), considerado o “pai do humor” em Portugal. Deixo-vos aqui a minha recolha, porque também nos dias de hoje em que vivemos uma pandemia fazem sentido:
























História | Uma breve história da gripe


A primeira referência à gripe, de que há registos, foi feita por Hipócrates no Livro IV das Epidemias, no qual descreve um surto de infeção no norte da Grécia em 412 a. C.
O vírus da gripe é cientificamente conhecido por vírus influenza, uma designação que teve origem em Itália, no século XV, visto que na época a causa da doença era atribuída a uma influência astrológica desfavorável. Com a evolução dos conhecimentos médicos passou a designar-se por “influenza di fredo”, ou seja, influência do frio, por ser mais comum nos meses de inverno. O termo influenza, utilizado em registos em inglês para designar a doença, surgiu pela primeira vez, em 1743, para descrever uma epidemia da gripe, que terá tido início em Itália.
Foi no século XVI, que terá ocorrido, com grande probabilidade, a primeira pandemia de gripe identificada em registos históricos, certamente impulsionada pelas viagens e explorações marítimas dos Descobrimentos. Teve origem na Ásia, no verão de 1580, espalhando-se depois por África e chegando, posteriormente, à Europa. No continente europeu caminhou de sul para norte em seis meses. Registaram-se cerca de 8000 mortes em Roma e foram dizimadas algumas cidades espanholas. Subsequentemente, a gripe também atingiu a América, onde terá também contribuído, juntamente com outros vírus e bactérias, para a elevada mortalidade da população nativa.
A partir de 1700, os registos são mais informativos e de melhor qualidade, sendo que a maioria dos especialistas identifica através deles, a ocorrência de 10 pandemias de gripe nos últimos 300 anos. Todas as pandemias tiveram origem na China, Rússia ou noutras partes da Ásia e ocorreram com intervalos que variam entre 10 e 50 anos.
No século XX, ocorreram três pandemias da gripe, que foram extensamente estudadas. A “Pandemia Espanhola”, de 1918, causada pelo subtipo H1N1 do vírus da gripe A, foi a mais devastadora de todas as pandemias da gripe de que se guarda registos históricos. Atingiu cerca de um terço da população mundial e estima-se que terão morrido mais de 40 milhões de pessoas. A origem deste vírus, isto é, como na evolução natural se chegou a este agente infecioso em particular, permanece desconhecida. Aliás só mais de uma década depois, em 1933, é que o vírus da gripe humana foi isolado em laboratório e se iniciou a era moderna da virologia da gripe. A análise do material genético do vírus de 1918/19, a partir de amostras de tecidos humanos recolhidos em autópsias realizadas à época, aponta para a hipótese do vírus ter evoluído diretamente do vírus da gripe aviária. Esta situação é distinta da que se identificou para a “Pandemia Asiática” em 1957, e a “Pandemia de Hong-Kong” em 1968, causadas respetivamente pelos subtipos H2N2 e H3N2, cuja origem esteve na recombinação entre um vírus aviário e um vírus humano que então circulava. Estas duas pandemias tiveram menor letalidade do que a de 1918. Estima-se que tenham causado em conjunto cerca de três milhões de mortos.
Já no século XXI, uma nova pandemia surgiu em 2009, uma variante de gripe suína com os primeiros casos detetados no México. O vírus, identificado como uma estirpe do já conhecido subtipo H1N1, provocou a morte a mais de 18 mil pessoas por todo o mundo.

Dr. Christopher Howard Andrewes que liderou a equipa que isolou o vírus humano em 1933.
Créditos: Organização Mundial da Saúde, Eric Schwab.