domingo, 22 de março de 2015

Museus | Museu do Fado, um caso de adaptação de um edifício industrial

Fachada principal do Museu do Fado
Foto: Ana Simões (2011)
     O edifício que acolhe hoje o Museu do Fado em Lisboa é um excelente exemplo de adaptação de um edifício pré-existente que foi projetado inicialmente para ter uma função industrial, demonstrado a possibilidade de associar património industrial a iniciativas museológicas não ligadas a esta área. São também exemplo disso a Tate Modern Gallery em Londres, o Museu do Oriente em Lisboa ou o núcleo museológico do Museu da Escultura de Roma instalado numa central eléctrica desactivada.
  Nestes projetos, um dos principais desafios é a sua adaptação não comprometer os pressupostos funcionais e estéticos que um museu deve ter. As edificações foram projetadas como unidades industriais sendo que na sua adaptação a instituição museológica terá de ter em conta tanto a preservação do edifício pré-existente como a sua adaptação às funções museológicas.

Vamos conhecer um pouco da história do edifício do Museu do Fado...

       Alçado principal da Estação da Praia (1868)           
 
Fonte: Arquivo Histórico da Epal                            
    Projectado pelo engenheiro Joaquim Nunes de Aguiar a 29 de Fevereiro de 1868, o edifício do Recinto da Praia foi a primeira estação elevatória de águas de Lisboa construída entre 1868 e 1869. O edifício é assim  designado em memória da praia ali existente onde os navios vinham fazer a aguada, a partir do chafariz.
    Erguido em frente ao Chafariz de Dentro, em Alfama, apresenta uma arquitectura industrial de carácter funcional característica de meados do século XIX, sendo uma das obras mais avançadas que a Companhia das Águas de Lisboa realizou nesta época. Um dos objetivos da sua construção consistia no aproveitamento de águas inutilizadas resultantes das nascentes orientais da cidade, de modo a garantir a sua distribuição. 
   Com a construção da Estação Elevatória dos Barbadinhos (hoje Museu da Água) em 1880, a estação passou a funcionar como sistema de apoio de reserva e complemento à acção da estação dos Barbadinhos, em caso de avaria. Foi definitivamente desativada em 13 de Julho de 1938, sendo que até à década de 1960 funcionou como Oficina de reparação de contadores e refeitório, e entre 1974 e 1990 ainda funcionou como Centro de Trabalho do Partido Comunista Português.

    Era objectivo da Câmara Municipal, desde o início da década de 1990, tornar o edifício de novo útil mas sem perder a sua carga histórica. Era urgente recuperar um significativo espaço público da cidade, o Largo do Chafariz de Dentro, em conjugação com a reutilização deste antigo imóvel industrial. Várias hipóteses foram consideradas, incluindo ser um quarto núcleo do Museu da Água e neste contexto procedeu-se à proposta classificação do imóvel, sendo classificado em 30 de Setembro 1997 como imóvel de interesse municipal, sob despacho do ministro da Cultura.
      A estação foi então totalmente reconstruída em Setembro de 1998 como Museu do Fado. Iniciativa da Direção Municipal da Reabilitação Urbana, conjuntamente com a EBAHL (Empresa de Equipamentos dos Bairros Históricos de Lisboa) e projetada pelos arquitetos José Daniel Santa-Rita e João Santa-Rita. 
      A intervenção arquitectónica teve, assim, como objectivo recuperar este edifício industrial e dotá-lo de condições adequadas a um novo uso museológico. A obra realizada conservou, quase na totalidade, a imagem exterior do edifício, reforçando-a pelo contraste com os novos corpos anexos de expressão actual e diferenciados, reconhecendo, desse modo, os seus diferentes contextos, que comunicam bem entre si.
    A localização do Museu do Fado neste edifício em pleno centro histórico de Lisboa, num bairro emblemático considerado berço desta canção popular, é de primordial importância no diálogo que o museu estabelece com a cidade. O museu assume-se como uma porta de entrada para o visitante conhecer melhor o bairro de Alfama e toda a zona histórica envolvente, muito caracterizada pela presença de Casas de Fado, onde este património imaterial e intangível está em constante recriação, num imenso “museu sem paredes” reconstruído no imaginário de cada um de nós. 

Ou seja um "casamento" perfeito...


Ponte rolante no auditório do Museu do Fado
Foto: Ana Simões (2011)





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