quinta-feira, 9 de abril de 2015

Museus | As origens dos ecomuseus

       O conceito de ecomuseu consolida-se nos anos 70 do século XX em França com os importantes contributos de George Henri Riviére e Hugues de Varine, duas personalidades que se destacam no panorama museológico francês. No entanto, as origens da concepção que contribuíram para o surgimento dos ecomuseus remontam à segunda metade do século XIX, quando se criam museus de Arte e Tradições Populares um pouco por toda a Europa que, lançam as bases para o aparecimento dos museus ao ar livre, de maior incidência nos países escandinavos. Este crescente interesse pela cultura popular e pela sua preservação, surge como consequência da conjuntura política e socioeconómica da época: exaltação dos nacionalismos e a crescente industrialização e urbanização que incita os movimentos de êxodo rural.
Foram várias as influências que contribuíram para o aparecimento dos ecomuseus a partir dos anos 60 do século XX.
          Durante os anos 60 e 70 do século XX assiste-se a uma série de mudanças que levaram o museu a uma crise de identidade e com ela surgem novas experiências museológicas associadas à Nova Museologia. A ideia principal desta nova corrente museológica prende-se com um novo conceito de museu, entendido como um instrumento necessário ao serviço da sociedade em rápida mudança. Deste ponto de vista, tenta-se desenvolver um museu vivo, participativo que se define pelo contato direto entre o público e o património mantido no seu contexto original. Pretende-se um “museu sem paredes” com uma concepção mais extensiva de património. A este tipo de instituições atribuiu-se, então, o termo de ecomuseu pelas suas características ligadas à conservação do meio natural e social.
O nascimento dos ecomuseus está estritamente ligado às transformações da sociedade francesa dos anos 1960. O desenvolvimento de uma política de gestão do território criou as condições favoráveis à sua realização e os ecomuseus alimentaram-se de novas preocupações que apareceram na sociedade, ligadas ao êxodo rural, à baixa do nível de vida das zonas rurais quase desabitadas, ao aumento da população e da sua concentração nas grandes cidades.
         Estas orientações tiveram um amplo eco que demonstra a difusão do ecomuseu, desde França a outros países europeus. Países como a Suécia, Espanha e Portugal que sobressaem pela sensibilidade e interesse acerca da museologia e ecologia, contando com alguns dos ecomuseus mais representativos.
          Em Portugal, depois da revolução de Abril de 1974, multiplicaram-se as iniciativas culturais, dentro da perspectiva do pluralismo cultural. Começou-se a falar da possibilidade de criar um ecomuseu em 1979 quando surge a ideia do projeto do Parque Natural da Serra da Estrela. As intenções do Ecomuseu da Serra da Estrela era transformar-se num projeto nacional e não ter apenas influência no território e comunidade onde se inseria. Esta sua ambição ia para além do conceito e organização do sistema museológico português. Apesar do fracasso do Ecomuseu do Parque Natural da Serra da Estrela, a partir do início da década de 80 a vida museal portuguesa beneficiou de alterações inovadoras, que se traduziram em novas práticas museológicas, no alargamento do conceito de património museológico, na renovação e criação de novos museus.
        Estes novos museus não se propuseram, simplesmente à acumulação de coleções, mas sim à utilização dos testemunhos tangíveis e intangíveis do património cultural que contribuiu para a compreensão, explicação e experiência da realidade social, económica e histórica que modelaram as diversas comunidades.
           Estas pequenas intervenções de carácter museológico revelaram-se inovadoras, porque permitiram salvaguardar e valorizar recursos locais, naturais e culturais, promovendo o saber fazer tradicional, ao mesmo tempo que deram um novo uso local e didático a esses bens.
          Entre as várias iniciativas que se criaram na década de 80, destacam-se o Ecomuseu Municipal de Seixal, o Museu Etnológico de Monte Redondo, o Museu Municipal de Benavente, o de Alcochete, o Museu Rural e do Vinho de Cartaxo e a Vila Museu de Mértola. Em todos eles existe uma sede central, na qual existe uma exposição permanente e departamentos auxiliares do ecomuseu, responsáveis pela recolha, conservação e restauro, investigação, documentação, reservas e pela organização de exposições temporárias e outras atividades educativas. O núcleo central é um ponto de partida para os restantes núcleos que possam existir, assim como para itinerários ecomuseológicos, distribuídos pelo território de influência do ecomuseu. Estas unidades permitem, não só a descentralização das atividades e das instalações, mas também a participação da população na conservação e na nova utilização in situ das construções e objetos que constituem o património local. Neste sentido, as populações locais participam na atividade do museu, que pode ir desde a doação de objetos, testemunhos e informações acerca dos utensílios, a conservação e restauro de peças, participação em trabalhos de estudo e em atividades de animação.
       
       De que forma este museus singulares, característicos de uma época e de uma determinada conjuntura, poderão fomentar-se e adaptar-se, no futuro, na nossa sociedade?

     O surgimento do conceito de ecomuseu é característico de uma época em que a museologia sofria grandes mudanças e dava-se maior importância ao papel do museu na sociedade.
       O equilíbrio entre a conservação e a animação não é suficiente para definir o ecomuseu, a maioria dos museus tradicionais também o alcançaram desde há muito tempo. A sua originalidade reside na preocupação social em conjunto com as preocupações ecológicas, no seu princípio de territorialidade bem definida, e na fundamental participação ativa da comunidade onde se insere.
       O ecomuseu refutava a ideia definida do museu universal, imutável no tempo e no espaço, em oposição defendia formas específicas através das quais cada micro sociedade objetivava o seu património com uma concepção mais extensiva.
     Delineou-se uma visão diferente de museu, mas que, no entanto, não deixou de receber influências da visão da nova museologia e da ecomuseologia, que de certa forma ainda permanecem, contudo, é uma visão que sofreu algumas metamorfoses ao longo do tempo.


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