quinta-feira, 5 de março de 2015

Museus | Arqueologia e Museologia Industrial

A arqueologia industrial desenvolveu-se em Portugal, sobretudo a partir de 1977/78, não como fenómeno universitário mas ligada às questões de salvaguarda e proteção do património cultural, com a realização da primeira exposição de arqueologia industrial em Tomar, em 1978.
A sua expansão realizou-se durante a década de 1980 a partir da constituição da Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa (AAIRL) e, desde essa altura, uma das principais preocupações foi a necessidade de salvaguarda do património industrial móvel e imóvel suporte da história industrial portuguesa com fins museológicos.
As reflexões no seio do movimento museológico internacional levaram museólogos e outros profissionais ligados à museologia a alargar o conceito de «museu», a conceber e criar espaços museográficos, abordando novas temáticas, quase sempre ligadas à evolução rápida das sociedades contemporâneas. Deste modo, organizaram-se museus de identidade associados a um território ou a uma empresa, a partir da  recolha, estudo e valorização do património museológico.
A exposição “Arqueologia Industrial: Um Mundo a Descobrir, um Mundo a Defender” que se realizou na Central Tejo, em Lisboa, de Maio a Dezembro de 1985 constituiu um acontecimento que potenciou a evolução desta nova disciplina, pois foi um êxito, tanto a nível nacional como internacional, sobretudo entre os especialistas da arqueologia industrial, escolas, empresas e trabalhadores.
Por detrás desta exposição estava a musealização do edifício da Central Tejo, no qual a EDP pretendia a instalação do Museu da Electricidade, uma iniciativa com bastante sucesso. Estas iniciativas tinham como perspetiva, a conjunção de esforços, por parte do Instituto Português do Património Cultural (IPPC) e da EDP na fundação do Museu da Indústria, no entanto, após o encerramento da exposição por falta de reconhecimento dos órgãos do estado, adiou-se a criação deste museu.
Na sequência desta exposição realizou-se, em 1986, o I Encontro Nacional de Património Industrial. Neste encontro defendeu-se a necessidade de apoio oficial à Arqueologia Industrial nas suas várias vertentes.
No seguimento deste encontro a Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa procedeu a uma revisão dos seus estatutos e transformou-se, em 1987, na Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI).
Nos anos seguintes surgiram museus de temática técnica e arqueológico industrial, ligados a empresas, autarquias e outras instituições, nos quais a Associação de Arqueologia Industrial teve um papel preponderante, são exemplos o Museu da Água (EPAL), Museu da Electricidade (EDP), Museu do Ferro da Região de Moncorvo, os núcleos de construção naval e do moinho de maré de Corroios do Ecomuseu do Seixal, Museu dos Lanifícios da Covilhã, Museu da Indústria Vidreira, Museu do Cimento da
CIMPOR, Museu do Papel de Paços Brandão, Museu Têxtil de Famalicão, entre outros.
Apesar de algumas iniciativas como estas, muito do nosso património industrial é deixado ao abandono ou então destruído por interesses imobiliários. É necessário o desenvolvimento de uma maior consciencialização sobre a preservação do património industrial na qual a acção das autarquias deve ter um importante papel.
As ferramentas e o trabalho formam parte da nossa cultura no sentido mais literal da palavra, o património industrial, como um organismo vivo, está constituído de maneira indissociável do seu passado, presente e do seu futuro. Partindo desta base é importante preservar e salvaguardar este património, sendo que através da sua musealização é possível incorporá-lo num local de intercâmbio e comunicação que nos permite redescobrir o nosso passado industrial, assimilar a cultura técnica e procurar testemunhos de uma melhor compreensão da nossa sociedade.
A arqueologia industrial não tem recebido proteção oficial, o desenvolvimento dos estudos que se relacionam com o património industrial são mais iniciativas particulares e do enquadramento associativo dos seus especialistas do que do resultado de projetos de interesse nacional tutelados pelas instituições estatais ou regionais, apesar de as populações estarem cada vez mais sensibilizadas para a valorização do seu
património industrial.
É uma preocupação a preservação e valorização dos bens industriais, tangíveis e intangíveis, assim como o acesso de todos à cultura técnica e científica, deste modo é muito importante a participação da comunidade no esforço de proteção e valorização deste património que materializa a sua memória e ilustra a sua identidade. 
Tal como qualquer outro tipo de património, os bens industriais valorizados podem e devem ser preservados e conservados. As tendências modernas passam pela prioridade ao inventário sistemático dos bens, actualmente ameaçados por razões de especulação imobiliária, viabilizar uma política de potenciação dos recursos culturais ao mesmo tempo que se identifica as principais realizações técnicas, industriais e
emocionais do património fabril e mineiro.
As pequenas intervenções de carácter museológico revelam-se inovadoras, porque permitiram salvaguardar e valorizar recursos locais, naturais e culturais, promovendo o saber fazer tradicional, ao mesmo tempo que deram um novo uso a esses bens. Enfim, o património industrial reaproximou-se das gentes locais, porque embora nalguns casos estivesse perto de quem fabricou e utilizou, tinha perdido a sua função inicial, tornando-se por isso um peso morto ou, quase morto, difícil de conservar ou animar.


Museu da Electricidade (Lisboa)

Sem comentários:

Enviar um comentário