Neste seu ensaio reflete sobre o papel do museu na nossa relação com as obras de arte.
O aparecimento dos museus, há menos de dois séculos, impôs ao espectador uma relação totalmente nova com as obras de arte, pois tornou-as mais acessíveis à sociedade.
“Até ao século
XIX, todas as obras de arte eram a imagem de algo que existia ou não existia,
antes de serem obras de arte”, André Malraux quer dizer com esta ideia que o
museu transformou peças que tinham anteriormente a sua função particular para
que foram criadas, em obras de arte para serem apreciadas pelo espetador
devido ao seu valor simbólico. Neste contexto faz todo sentido dizer que “o
Museu é um conjunto de metamorfoses.” O museu torna-se um lugar de
recontextualização dos objectos pois reune peças que estão descontextualizadas,
das quais se retiram a sua função original e atribui-se a função de contar
histórias com outros objetos igualmente descontextualizados, onde as
narrativas de relacionam.
Deste modo um
museu tem uma função e um papel social importante de salvaguarda das obras de
arte mas também de transmissão de conhecimento e educação pois proporcionam-nos
lugares de estudo e de reflexão.
O «Museu Imaginário»
é um museu formado por reproduções de imagens, é o que cada pessoa conhece de
imagens de obras de arte. A sociedade atual tem uma facilidade de acesso ao
conhecimento da arte e cultura nunca antes tida por civilizações anteriores, e
este museu imaginário, de cada um de nós, pode conter tudo aquilo que nem os
grandes museus podem adquirir, desta forma seria possível cada um criar o seu
museu ideal. É um espaço imaginário sem fronteiras que nos habita e está em
constante crescimento e transformação. Este lugar mental é capaz de criar uma rede
de linguagens e de evidenciar as potencialidades das obras sendo possível fazer
comparações entre obras de arte, pois dispomos de reproduções de mais obras do
que um museu tradicional, as quais são capazes de colmatar lacunas da memória e
aprofundar ao máximo o confronto entre as obras.
André Malraux dá-nos vários exemplos de museus imaginários, como a Olimpia de Manet e Uma Olimpia Moderna de Cézanne, os retratos burgueses de Ingres e Daumier, as Vénus de Ticiano e Cabanel, entre outros. O museu imaginário pretende despertar a crítica das obras e é possível transformar uma obra reproduzindo-a de outra forma consoante a visão do artista, foi o que de certa forma fez Picasso em Las Meninas em relação às Las Meninas de Velásquez.
As obras revelam sobretudo uma relação com obras anteriores que
metamorfoseiam em outras obras. O museu imaginário abole as limitações da
cronologia e reúne a obra de arte por uma sincronia. Essa sincronia faz com que
as obras não parem de se modificar, desencadeando uma potencialização das obras
através da crítica.
A existência
do Museu Imaginário deve-se sobretudo à massiva reprodução de imagens de obras
de arte através da fotografia que, tornou possível a comparação de obras de
arte mesmo desfasadas no tempo e de artistas diferentes, contribuindo para
modificar o diálogo e a hierarquia entre as obras. A fotografia permite
perceber pormenores das obras que talvez ao vê-la a olho nu não dávamos conta,
no entanto, como nos refere André Malraux, nas reproduções as obras perdem a
escala original e uma reprodução não é uma obra de arte nem a substitui.
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