sexta-feira, 20 de março de 2015

Museu Imaginário

              Museu imaginário é um conceito criado por André Malraux (1901-1976) em 1947. Escritor francês, crítico de arte e político activista, André Malraux usou as suas obras para expressar o existentialismo.
             Neste seu ensaio reflete sobre o papel do museu na nossa relação com as obras de arte.
              O aparecimento dos museus, há menos de dois séculos, impôs ao espectador uma relação totalmente nova com as obras de arte, pois tornou-as mais acessíveis à sociedade.
“Até ao século XIX, todas as obras de arte eram a imagem de algo que existia ou não existia, antes de serem obras de arte”, André Malraux quer dizer com esta ideia que o museu transformou peças que tinham anteriormente a sua função particular para que foram criadas, em obras de arte para serem apreciadas pelo espetador devido ao seu valor simbólico. Neste contexto faz todo sentido dizer que “o Museu é um conjunto de metamorfoses.” O museu torna-se um lugar de recontextualização dos objectos pois reune peças que estão descontextualizadas, das quais se retiram a sua função original e atribui-se a função de contar histórias com outros objetos igualmente descontextualizados, onde as narrativas de relacionam.
Deste modo um museu tem uma função e um papel social importante de salvaguarda das obras de arte mas também de transmissão de conhecimento e educação pois proporcionam-nos lugares de estudo e de reflexão. 
O «Museu Imaginário» é um museu formado por reproduções de imagens, é o que cada pessoa conhece de imagens de obras de arte. A sociedade atual tem uma facilidade de acesso ao conhecimento da arte e cultura nunca antes tida por civilizações anteriores, e este museu imaginário, de cada um de nós, pode conter tudo aquilo que nem os grandes museus podem adquirir, desta forma seria possível cada um criar o seu museu ideal. É um espaço imaginário sem fronteiras que nos habita e está em constante crescimento e transformação. Este lugar mental é capaz de criar uma rede de linguagens e de evidenciar as potencialidades das obras sendo possível fazer comparações entre obras de arte, pois dispomos de reproduções de mais obras do que um museu tradicional, as quais são capazes de colmatar lacunas da memória e aprofundar ao máximo o confronto entre as obras.
André Malraux dá-nos vários exemplos de museus imaginários, como a Olimpia de Manet e Uma Olimpia Moderna de Cézanne, os retratos burgueses de Ingres e Daumier, as Vénus de Ticiano e Cabanel, entre outros. O museu imaginário pretende despertar a crítica das obras e é possível transformar uma obra reproduzindo-a de outra forma consoante a visão do artista, foi o que de certa forma fez Picasso em Las Meninas em relação às Las Meninas de Velásquez.
As obras revelam sobretudo uma relação com obras anteriores que metamorfoseiam em outras obras. O museu imaginário abole as limitações da cronologia e reúne a obra de arte por uma sincronia. Essa sincronia faz com que as obras não parem de se modificar, desencadeando uma potencialização das obras através da crítica.
A existência do Museu Imaginário deve-se sobretudo à massiva reprodução de imagens de obras de arte através da fotografia que, tornou possível a comparação de obras de arte mesmo desfasadas no tempo e de artistas diferentes, contribuindo para modificar o diálogo e a hierarquia entre as obras. A fotografia permite perceber pormenores das obras que talvez ao vê-la a olho nu não dávamos conta, no entanto, como nos refere André Malraux, nas reproduções as obras perdem a escala original e uma reprodução não é uma obra de arte nem a substitui.

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