Nos séculos XVII e XVIII, deu-se o aparecimento da farmácia química em
Portugal. Químicos e destiladores
estrangeiros que se estabeleceram no país, trouxeram
consigo a produção de medicamentos preparados
por “arte química”. No início de seiscentos alguns destes medicamentos
já eram utilizados, mas houve alguma
resistência à difusão destas
técnicas, pois ainda havia uma predominância das doutrinas da farmácia galénica, baseada
numa terapêutica de origem natural e em
métodos tradicionais como purgas ou
sangrias.
Foi só na primeira metade do século
XVIII, que os medicamentos químicos se
tornaram mais populares na forma de remédios
secretos, tendo bastante aceitação por
parte da população. Eram feitos
principalmente por químicos,
médicos, cirurgiões e até alguns
boticários. Porém, os boticários que se dedicavam à sua
produção eram uma minoria, pois a
maior parte das boticas não tinha
instalações e equipamentos necessários para a manipulação química, e
continuavam a utilizar sobretudo as técnicas
tradicionais.
Com o desenvolvimento da química farmacêutica começaram a
comercializar-se cada vez mais substâncias
químicas e até preparados galénicos.
A "Teriaga Magna", a "Água da
Rainha da Hungria", o "Óleo de
Ouro", as "Pedras Cordiais" e o "Xarope Violado Roxo"
são alguns nomes pelos quais ficaram
conhecidos esses preparados.
A “Água de
Inglaterra” foi um dos remédios de segredo mais populares durante
o século XVIII. Eram conhecidos por este
nome vários preparados farmacêuticos, produzidos por diferentes
fabricantes desde finais do século
XVII até inícios do século
XIX, que apresentam em comum serem vinhos de quina. Eram utilizados para o
tratamento do paludismo, doença com
bastante incidência em todo o território português, e começaram
por ser importados de Inglaterra. Mais tarde, Castro Sarmento conseguiu
organizar uma rede de distribuição da “Água de Inglaterra” em Portugal e com o tempo, foram
surgindo produtores locais que satisfaziam o aumento da sua procura.
Foi neste contexto de expansão dos rémedios
de segredo que surgiu a publicidade a medicamentos. Pela primeira vez eram
publicitados remédios considerados milagrosos
que prometiam curar diferentes maleitas. Os anúncios
eram publicados no periódico Gazeta de Lisboa e em cartazes impressos
e fixados nas ruas. Eram medicamentos que se destinavam sobretudo ao consumo
por auto-medicação.
Com a difusão das ideias iluministas, no reinado de D. José I e governo do Marquês de Pombal, assistiu-se à rejeição da
prática da farmácia galénica e à condenação da produção de
medicamentos de segredo.
Um grande desenvolvimento neste
sentido foi a criação do curso de boticário na reforma Pombalina da
Universidade de Coimbra de 1772. Era um curso integrado na Faculdade de Medicina,
com a duração de quatro anos, com dois
anos de aprendizagem de química no
Laboratório Químico e dois anos de aprendizagem de arte farmacêutica no Dispensatório Farmacêutico.
Anúncio a um remédio secreto na Gazeta de Lisboa de 9 de junho de 1718 Consultada na Hemeroteca Digital |
Sem comentários:
Enviar um comentário