Uma visita guiada pelo Museu da
Farmácia, em Lisboa, leva-nos numa
viagem por mais de 5000 anos de história da saúde e da farmácia,
através de objetos oriundos de
civilizações e culturas distantes no tempo e no espaço.
Iniciamos esta viagem no Antigo Egipto
perante o sarcófago de Irtierut, o filho de
Pa-di- Her e Taremenubet. Todo o ritual
e processo de mumificação possibilitou
um maior conhecimento sobre a anatomia e fisiologia do corpo humano, assim como
o conhecimento das substâncias
terapêuticas provenientes do reino
vegetal, animal e mineral, que eram usadas na preparação e conservação do
corpo.
Passando para a Grécia Antiga ficamos a saber que a
grande conquista da medicina grega foi a sua procura de bases naturais para
explicar a doença, as suas causas e
tratamento, não sendo baseadas na religião, na magia ou superstição. Estando esta conquista ligada a Hipócrates (460-377 a. C.), que ficou
conhecido como “pai da medicina”. Ele e os seus seguidores formaram a
chamada escola Hipocrática,
que fomentava uma explicação racional e empírica, opondo-se à abordagem religiosa e mágica da medicina.
No Império romano, o contributo caracterizou-se pela organização do conhecimento médico e farmacêutico através de várias obras e Galeno foi o mais notável autor da sua época.
Viajando para outro continente,
chegamos às civilizações da América do Sul: Incas, Maias e Aztecas. O poder da cura,
nestas civilizações estava estritamente
ligado às figuras do feiticeiro e
curandeiro, que faziam a mediação
entre o mundo terreno e o espiritual, com os rituais e cerimónias a assumirem grande importância. Para além da ligação mágico-religiosa, estas civilizações tinham um grande conhecimento das
propriedades e manipulação das
plantas e outras substâncias
naturais.
Avançamos, agora, alguns séculos no tempo e chegamos à Europa na Idade Média. É nesta época que se dá o aparecimento dos primeiros espaços fixos para a produção e
venda de medicamentos, as boticas. Surgem sobretudo no centro das grandes
cidades europeias, mas também se
organizaram boticas em conventos e mosteiros, que muito contribuíram para o desenvolvimento da prática farmacêutica.
A expansão marítima
portuguesa, iniciada no século
XV, teve uma grande repercussão no
desenvolvimento da ciência
farmacêutica, com a descoberta de
novas espécies vegetais, minerais e
animais e com o contacto com outras civilizações,
que proporcionaram a vinda, para a Europa, de drogas desconhecidas de grande
interesse terapêutico e comercial.
Uma farmácia portátil |
Nos séculos XVII e XVIII, deu-se o aparecimento da farmácia química.
No início de seiscentos alguns
medicamentos químicos já eram utilizados em Portugal, mas a
sua utilização só foi aceite de forma mais pacífica em finais do século.
Esta aceitação refletiu-se no aparecimento
de literatura farmacêutica,
até então
praticamente inexistente. Nos finais do século
XVII, também se assistiu a uma grande
expansão do número de entradas na profissão
farmacêutica. A aprendizagem dos
saberes farmacêuticos era realizada nas
boticas e depois de quatro ou mais anos de prática
poderiam realizar o exame de acesso à
profissão.
Foi finalmente no século XIX, que houve um maior
desenvolvimento da farmácia em
Portugal com criação e consolidação do ensino superior e com o
fortalecimento do associativismo entre a profissão.
No século XX, as grandes descobertas na área da medicina tiveram um avanço sem precedentes. Exemplo disso foi descoberta da penicilina por Fleming, uma verdadeira revolução para a Humanidade.
A evolução das farmácias
durante os vários séculos pode ser observada através de exemplos de estabelecimentos farmacêuticos
recriados no espaço do Museu, desde o final do
século XV até aos nossos dias. Reconstituições de autênticas
farmácias portuguesas desde a
antiga botica dos séculos XVIII, até à Farmácia Liberal do início do século XX. É de destacar
a reconstituição de uma farmácia tradicional chinesa, oriunda de
Macau do final do século XIX e de uma área dedicada à Farmácia
Militar.
É sem dúvida um museu que não podem deixar de visitar!